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de Diana Taylor
X
Bem-vindxs ao eXcéntrico, o Xº Encuentro Internacional do Instituto Hemisférico.
A primeira imagem que nos veio à mente quando conversamos com nossxs colegas chilenxs no Hemi sobre fazer um Encuentro em Santiago foi X.
X, o Xº Encuentro Internacional do Hemi.
X, eXcéntrico, queríamos sublinhar as margens, as periferias, o decolonial, o descentralizado, fora do centro realmente. Este Encuentro, sem dúvida, tem sido eXcéntrico, embora nem sempre da maneira como imaginávamos… Esperávamos difundi-lo por toda a cidade de Santiago, ou mesmo pelo país. As rutas ou rotas de arte-ação de rua que integram o programa deste ano atravessam a cidade por vias diversas (Memória e Violência, A Cidade Indígena, Resistência nas Periferias Urbanas), demonstrando nosso impulso em direção à dispersão. Entretanto, como é de praxe, o centro puxa de e empurra para fora, a periferia exige se tornar central, as tensões e oscilações entre os centros e as periferias resistem à estabilidade ou à resolução. Estudantes, mais uma vez, tomam as ruas. Centros de ensino se fecham; outras áreas de interação e diálogo se abrem.
X é encruzilhada, o ponto onde todos os elementos divergentes se reúnem, se encontram, colaboram e se separam mais uma vez. O X não retém. Nós convergimos; nós criamos; nós partimos.
X marca com precisão o espaço entre nós, que habitamos e animamos. Cada umx de nós pode ocupar um canto, mas é o entre-lugar que é a chave para compreender o afeto e a ação política que não acontecem em você ou em mim, mas no espaço compartilhado entre nós, o x produtivo que, concomitantemente, nos une e separa.
X é o espaço de aparecimento de Hannah Arendt: “A pólis, propriamente falando, não é a cidade-estado em sua demarcação física, e sim, a organização das pessoas de acordo como ela surge a partir de ações e falas conjuntas, seu verdadeiro espaço situa-se entre as pessoas que vivem em conjunto focadas neste propósito […] É o espaço de aparecimento no sentido mais amplo da palavra.”
X = (nas tabelas de multiplicação) é um mecanismo de acrécimo. X Criadorxs = um grande número de criadorxs. Esta é a lei da propagação, da intensificação e da amplificação. Essa é a função da performance política.
X, todavia, também é plataforma para o indeterminado, o elemento variável em qualquer equação: a÷b = x. Nunca sabemos plenamente os resultados de nossas ações. O que virá desse nosso encontro aqui em Santiago agora? Novas e grandiosas reflexões , ações e ideias, esperamos.
X tem potencialidades descoloniais. Quando os espanhóis conquistaram a Mesoamérica eles enfrentaram dificuldades com as línguas maias e náuatle. Tiveram de fazer um esforço tremendo para transcrever para o alfabeto romano os sons que ouviram. Muitas aproximações funcionaram suficientemente bem, mas alguns fonemas escaparam-os completamente. Alguns deles foram marcados como X. O X em MéXico, niXtamalizar, aXolote, Xóchitle, entre outros soam bastante diferentes. X está, ao mesmo tempo, a favor e contra; e não sucumbirá ao domínio colonial ou ortográfico.
X marca o ponto, nossa localização na Universidade do Chile, em Santiago. Durante a próxima semana, esse será nosso espaço de performance, uma arena de potencialidades. O Hemi agradece axs nossxs anfitriãxs por fazerem desse um espaço possível. Obviamente, espaços tangíveis nunca foram um dado adquirido—esse exato lugar é e tem sido local de lutas e transformações. Nossa presença aqui agora só faz destacar a constante re-figuração do próprio espaço através do tempo.
X é polivalente, sinalizando tudo, de beijos e cromossomos do sexo feminino a conteúdos censurados.
O Hemi, conforme gostamos de pensar, é uma encruzilhada em favor das Américas. No Encuentro artistas, ativistas e pesquisadores podem se reunir, conectar, engajar, inspirar, mobilizar, multiplicar e amtner em movimento ao redor dos quatro cantos do mundo. Aproveitem!
XX
Diana
Diana Taylor
Fundadora e Diretora
Instituto Hemisférico -
X
Bem-vindxs ao X Encuentro Hemisférico eXcêntrico de 2016
Para muitxs, o ressurgimento dos movimentos sociais no nosso país, que teve início em 2006 e atingiu seu pico em 2011, marcou um ponto de inflexão na entorpecida etapa de transição que definiu os anos pós-ditadura em nosso país. De certo modo este fenômeno selou, por um lado, o fim do processo de instalação democrática e, por outro, implicou o ressurgimento de antigas reivindicações que defendiam a necessidade de transformação do nosso sistema político. Movimentos sociais de várias frentes por uma educação gratuita, igualitária e de qualidade; pelo direito à diversidade sexual e de gênero; pela luta e reivindicações dos povos nativos; pela mudança de paradigma de exploração do meio ambiente como um todo permitem recuperar a dimensão do político, em detrimento da habituação da política, reduzida a mera administração. É neste cenário que a questão da soberania, do direito à dissidência e, finalmente, do direito de pensar uma organização social e econômica diferente são plenamente relevantes e a reivindicação por cidadania torna-se urgente. Esta reviravolta dxs cidadãxs insere no centro do debate a questão da participação antes da representação, a questão do poder distributivo antes do poder atributivo. É neste cenário perfeito que surgem outros modos de manifestar discordâncias, que assumem formas excêntricas, ou seja, assumem a forma de um espaço distinto e à parte que torna possíveis outras subjetividades, outros modos de fazer e saber, uma forma que hoje chamamos de performance.
Foram esses os motivos pelos quais a Universidad de Chile decidiu co-organizar este evento, em parceria com o Instituto Hemisférico de Performance e Política da New York University. Não só por ser a Universidade do País, mas especialmente pela missão pública que a define e implica contribuir para o desenvolvimento da nação. Trata-se de uma iniciativa inédita, nascida do interesse da Universidade em intervir no debate público e criar vínculos com os meios cultural e artístico, nacional e internacional. Por ser uma iniciativa que combina instâncias acadêmicas com festival de performance, o evento logra criar espaços para as artes e, ao mesmo tempo, para uma reflexão pública em torno da política. O que marca o Instituto Hemisférico é justamente o seu trabalho na interseção entre a arte, a política e o academicismo, que implica um modo de trabalho inovador e necessário em nosso país.
Hoje que buscamos imaginar o político como um espaço de dissidências onde as soberanias que atualmente operam nos interstício entre o Estado e xs cidadãxs começam a gerar tensões e que a performance constitui uma experiência dessa transformação é o melhor momento para o nosso país receber este X Encuentro Hemisférico.
Bem-vindo Hemisférico, sejam todxs bem-vindxs.
Faride Zeran
Vice-reitora de Extensão e Comunicação
Universidad de ChileMauricio Barría Jara
Coordenador Geral
Xº Encuentro Hemisférico de Performance