Photo: Centro de mídia independente, São Paolo
Ao que parece, a América Latina, também no que diz respeito à Universidade, éum campo de paradoxos. E como poderia ser diferente? Ainda que muitas vezes um instrumento oligárquico, se consideramos a distância entre Universidade e Sociedade que favorece uma educação que é privilégio de classe, mesmo assim, essa instituição – sua própria existência – se não exatamente um reflexo, é certamente um sintoma dos outros lados desta mesma sociedade.
Pertenço a uma instituição privada. Entretanto, poucas escolas como as da PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – representaram melhor o espírito que norteia o pensamento a favor da esfera pública. A tradição da PUC é predominantemente de esquerda. Se nos últimos tempos este perfil mudou um pouco, muito pode ter a ver com a crise econômica que o modelo liberal de administração em parte não foi capaz de enfrentar.
A PUC-SP, embora sempre tivesse um departamento de Artes, não conviveu sistematicamente com um curso deste tipo e muito menos com as situações que costumam resultar desse convívio. A atitude da comunidade universitária a esse respeito pode ser de ambigüidade, ao mesmo tempo reconhecendo a importância de uma perspectiva avançada da insituição e simultaneamente resistindo a este mesmo avanço. É possível encontrar, pelo Brasil afora, problemas semelhantes, entretanto ainda é muito difícil para a universidade brasileira – a PUC-SP em particular – a aceitação de possibilidades diversas de uso do corpo como expressão artística. Há uma intensa variabilidade de infraestruturas acadêmicas abertas à experimentação. E mesmo estes espaços, ainda hoje, devem seu projeto a concepções artísticas bem antigas.
Considerando um país como o nosso, isto pode parecer – e é – um contra-senso. Entretanto pode ser relacionado a uma questão sócio-histórica mais abrangente. O Brasil ainda trata a arte do mesmo modo que a educação: como “privilégio”; que se aproxima do universo do entretenimento (quando se trata, prinicipalmente, das artes que fazem uso do corpo); que não contém densidade científica. Esse senso comum tem sido responsável pela contínua ausência de políticas culturais sólidas, por problemas frequentes de financiamento da produção artística – sobretudo daquela que não atrai o grande público.
Os artistas costumam considerar-se vítimas da situação e frequentemente se vêem inferiorizados ou desprestigiados. A universidade brasileira, de modo geral, não reconhece o valor do artista. Por um lado, as agências de apoio à pesquisa estão dando maior importância às atividades criativas, por outro, os proventos oferecidos àqueles que não detém titulação acadêmica (mestres ou doutores) são muito inferiores, o que desestimula a aproximação entre o artista e o mundo acadêmico.
Evidentemente a situação reflete-se nos alunos que, ou se afastam após a graduação em busca de uma renda mais estável, ou retornam ao circuito acadêmico tendo em vista também se tornarem professores. A imagem clichêdo professor como um artista frustrado ainda povoa esse ambiente no qual a falta de informação e de políticas de auxílio – dentro e fora da universidade – ajudam a complementar o quadro.
Paradoxalmente, algumas instituições universitárias têm se demonstrado mais flexíveis em alguns aspectos que o próprio mercado da arte. Estas têm aberto brechas em novas áreas, novas práticas, e lançado a possibilidade do estudo de novos temas na área de graduação e pós-graduação. A habilitação em Performance do curso no qual trabalho, Comunicação das Artes do Corpo, tem produzido várias pesquisas “teóricas” que se articulam a experimentos expressivos. Exemplos: o “retalhamento” de um texto significativo da vanguarda teatral brasileira (A morta de Oswald de Andrade); a questão da própria escritura performática; a modificação corporal. Estes são exemplos esparsos do amplo leque de pesquisas que é produzido no espaço de discussão do curso. Relações entre a performance, o caminhar e a deriva; a voz e o corpo; os treinamentos orientais; o circo-teatro e vários outros – para ficar apenas nas monografias da nossa linha de pesquisa – indicam uma propensão à investigação mais avançada.
Em outras instituições como a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a UFBA (Universidade Federal da Bahia), UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) também se processam pesquisas em performance, criação de núcleos e histórias importantes tem segmento.A Universidade Federal da Paraíba, por exemplo, sediou, nos anos 70, um importante Núcleo de Arte Contemporânea. A UFMG tem um núcleo de pesquisa em performance escritural, e a Licenciatura em Artes Cênicas da USP (Universidade de São Paulo) acaba de aprovar uma reforma que inclui dois semestres de performance ministrados em conjunto com a Faculdade de Artes Plásticas.
Um outro contraste que identifico na vida universitária brasileira pode ser visto nas situações em que novos mercados comerciais/culturais não abrem espaço para seus próprios estimuladores dentro da universidade. A Moda, por exemplo. O mercado de Moda brasileiro ainda não trata com mínima deferência o profissional acadêmico que milita nesta área dentro da universidade. Por outro lado, a universidade tem apreço pelo artista e o prestigia nas suas várias áreas de atuação, mas lhe nega o direito a uma remuneração condizente.
A situação no Brasil, ao que me parece, éde mudança e de descobertas. Muitos valores consolidados permanecem obstáculos que impedem mudanças. Há uma necessidade vital de inversão das prioridades de orçamento nas áreas de educação e cultura, mas isso parece enfrentar não só interesses muito sérios (a única explicação para tantos séculos nos quais o conjunto de prioridades ainda favorece a infraestrutura e as grandes obras) mas também, talvez, no caso específico da cultura, uma indiferença ou resistência de grandes camadas da população.
A recente vitória do Brasil na disputa por sediar os jogos olímpicos e a futura copa do mundo de futebol já está iniciando um processo de saldar uma dívida antiga na área de apoio aos esportes.
Juntamente com a educação e a cultura, o esporte foi sempre um setor esquecido por verbas públicas. Em grande medida ainda o é, mas a situação tende a mudar rapidamente e os parceiros da iniciativa privada se multiplicaram. Corre-se o perigo, por outro lado, de demasiada atenção a uma certa “cultura espartana” de competição e valorização do brilho efêmero das vitórias, o que pode tornar “desinteressante” os mais desafiadores meandros do pensamento filosófico e da invenção artística.
O prestígio de verbas e o apoio social ainda não alcançaram a educação e a cultura. Livros ainda são taxados; instrumentos musicais só recentemente receberam uma diminuição das alíquotas de importação, muito embora a indústria brasileira que os produz tenha tido exponencial crescimento de qualidade; são ainda muito pobres as iniciativas de apoio à arte experimental.
No vácuo das políticas públicas ausentes, cresceram os fomentos ligados a instituições privadas que trabalham com megaeventos, onde a tônica é uma quantidade enorme de artistas mal pagos quando não simplesmente trabalhando de graça. Exemplos deste tipo de prática ocorrem tanto nos editais de instituições públicas quanto em instituições que representam os interesses de categorias da sociedade (como comerciários, trabalhadores da indústria etc.).
O calendário de festivais, em sua aparente vitalidade, por exemplo, esconde situações vexatórias, baixíssimos salários, imensas discrepâncias entre veteranos e iniciantes, estímulo praticamente inexistente. A situação também provoca a multiplicação de esforços isolados em algumas areas, sofrendo uma oscilação ao sabor dos favores pessoais, das relações de grupo, do paroquialismo etc.
Enfim, a universidade brasileira, no campo artístico, é um ambiente atravessado por todas estas questões sócio-históricas e econômicas que podem ser atribuídas ao âmbito da política cultural brasileira em geral. Muitas vezes o livre debate no ambiente acadêmico é cerceado por situações de poder que vazam dos grupos de prestígio para o interior dos departamentos. Ao mesmo tempo, é importante frisar que algumas soluções de extrema potência conseguem articular rotas de fuga para estas situações, representando de forma exemplar a máxima de Hélio Oiticica “da adversidade vivemos”.
Ou seja: há, evidentemente, muito de conformismo neste panorama. Mas vislumbram-se algumas mudanças. A universidade brasileira hoje possui vários cursos singulares na área de artes, o que tem atraído pesquisadores e artistas do exterior (da América do Sul e da Europa). A principal transformação – além desta que está modestamente em curso – é a inversão de prioridades econômicas. Esta só poderá de fato ocorrer na medida em que haja também uma inversão geográfica, anti-colonialista, fomentada pelo decisivo desenvolvimento de intercâmbios possíveis por toda a América Latina.
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